ExtravasamentoS

Expurgar o ente que em nós habita, denunciar a forma do monstro, ver-lhe a sombra e dar-lhe luz, pois não passa apenas de uma criança assustada.

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Location: Lisboa, Portugal

Contradição espampanante em tímida incerteza, fortaleza de basalto em colina de lama, cama de sono em nuvens lavadas de fresco

Tuesday, April 26, 2005

mar

Um dia o mar ergueu a saia
Expôs seu recife ao léu
Lambeu os pés de quem o vaia
Vasculha a areia pelo seu
Tesouro escondido
Perdido para sempre
Algures engolido
Nas dunas o ventre

Friday, April 22, 2005


saara

plenitude

Que mãos de seda fina
Dotadas de sublimidade
Terão tecido o tecido
Da nossa cumplicidade
Que desinibição desmedida
Surpresa de suavidade
Fresco fôlego de claridade
Alimenta-me de vida
Ao sabor do andar sem pensar
Ir sem ver o tempo chegar
Folha de verdura lavada
Frescura de pele rosada
Rosa campestre o espinho
Não disfarça o cheiro
Aroma de afecto saído do forno
Fornalha de paixão
Leveda a minha massa
E coze o meu pão
Quentinho com manteiga
Vaquinha bucólica e meiga
Profana a minha existência
Com tentação atenciosa
Atenção!
Beleza imensurável de mulher
Bela refeição seria se colher
Houvesse em que coubesse
O amor inquestionável
Que tão afável carícia
O seu corpo me oferece


manhã

manhã

Abro os olhos de manhã
A custo se abrem as pálpebras
Penso no dia que vem
Mas não no que me convém
Penso na felicidade
No sublime ecoar de uma verdade
Um sonho que é alguém
Que longe de desvanecer
Enriquece antes
Toda a vivência de um ser
Escravo de tal divindade
De lindas feições
Com sorriso encantador
Um olhar e o tempo pára
Com a sua íris de bela côr
De forma esbeltas
Vestida com arte e primor
Irradia amizade
Provoca alegria
E respira amor

bajulação

Cada parte tua cria
Um oceano de emoções
Esboçadas lindas feições
Estampadas no rosto as via
Em perfeita harmonia
Com celestial qualidade
A de ver mais longe no fundo
Onde se encontra a verdade
A de ter profundidade no pensar
Que exótica personalidade
A de querer ser e de ter vontade
De estar além de algo mais
Tão bela que os seus pais
Deviam ser heróis nacionais
Tão inteligente que a sua mente
Encerra tesouros fenomenais
Rainha de todo um Reino
De beleza e formosura
Um olhar e o tempo pára
Como que por magia
Doce fada de olhos lindos
Lábios cheios e sensuais
Tu própria és a sensação
De seres perfeita demais


s.

Tuesday, April 19, 2005

prenda de natal

Que morna sensação
Me dá a tua envolvência
Um olhar mil beijos quatro mãos
Intenso prazer depois dormência
Recém nascido aconchego-me
Embalado pela calma que transpiras
Permaneço calado mas sinto-me outro
Sinto-me como um potro com
Um mar de relva fresca só para si
Cavalgo solto e agarro a leveza da vida
Perdido no torpor do teu corpo imerso
No calor de uma lareira natalícia
Que enche o ar de amor
Que emana da tua carícia
Plena de afecto
Superas qualquer objecto
És mais que pura delícia

Thursday, April 14, 2005

Sol

Beija o Sol
Bochecha em brasa
Abraça a brisa matinal
Carícia de folha que esvoaça
Rodopia em sua dança
Determina a sua raça
A taça vai para quem não cansa
Amansa teu ímpeto volátil
Grácil forma de bem estar
Estancado só num tanque
Com um estante para amar
Rabisca a folha dispersa
Que esvoaça rente ao mar

Sunday, April 10, 2005


luz

Sunday, April 03, 2005

conturbação

Passados anos e anos de acumulação de pó, uso e desuso de caneta incógnita em papel escondido sobrevivido às vorazes traças baratas e peixinhos de prata, eis expostas as notáveis peripécias de um jovem conturbado que do fundo de um poço solta eco entoado de contidas emoções que descreve num enjôo de ciclicidade: é a épica verdade de transtornada batalha travada à mão de navalha contra ladrão de si próprio. Quem irá ganhar? Poder-se-à apenas perder? Ou será a mera batalha por si, já é em si, a grande vitória.

Saturday, April 02, 2005


serpa1

maresia

Eu vim do mar morei na casa de algas
Onde verdes janelas de luz difusa
Difundida pelo tapete picante rolante
De ouriços feitiços e estrelas do mar
Eu vou voltar já me vejo
Bochecho a espuma e cuspo o seixo
Recheio de pluma leve e branca
Estofa a lapa em dura pança
Dança o ventre com o umbigo
E chamo um figo ao pepino-do-mar
Eu vim da sombra escura das
Profundezas de um canto oculto
De mim, e quando volto
Relembro tudo o quanto o que já fiz
E o que não fiz
De onde vim para onde vou
Do que fugi já me encontrou
Rio que serpenteias
Arrasta teu depósito
De vida de pedra moída
Jorra o corpo pela margem
Leva a vagem a bom porto
Sangra teu destino sinuoso
Em fosso de águas mil

Voar

Quero voar
Abrir os braços em suave levitar
Perder a noção do tempo
E ganhar a dos espaços
Quero saborear
As nuvens e o ar
Pôr brilho em olhos baços
Ser mais que possa tentar
Quero ser folha erva e vagem
Integrar-me na paisagem
Sentir a dimensão
Quero cheirar a côr dos campos
E deslizar pelas colinas
Assimilar ao pormenor
Numa mera sensação
Toda a vida em redor
Quero aguçar em pontas finas
Os lápis da expressão
Deixar jorrar para fora
Cascatas de emoção
Quero não pensar
E ser o que penso
Achar o que acho
E viver o momento

Nuvem

Nuvem branca
Recém formada no céu
A água pesa
Do tanto que já bebeu
Sulca a terra
Guerra que sempre durou
Dura a pedra
Que água mole desgastou

Lágrimas de quem chove solto
E liberta a vontade de ser mais
Expira o ar de quem engole
Engasga engana e amaina o vento

Nuvem escura
Pesada forma a alastrar
No momento
Ribomba um crepitar
Espessa a carga
Descarga que paira no chão
Carrega a palha
Falha que raza a razão

Na lareira nasce o fogo
A caruma invade e entranha
Pisa a braza assa a mão
No chão o carvão desenha

No deserto
De gelo e esplendor
Só o vento
Partilha a carícia da dôr
Do sustento
Lábios que roçam os dois
Noutros relentos
Doces momentos

Poeirência

Sou o homem de pó
A lama que escorre do cume aquecido
Espessa espuma enegrecida
Em lenta viagem trilhada
Por atalhos talhados na selva
O peixe sem guelra deixado a secar
Olhar esgazeado de moribundo
Condenado à morte pouca sorte
De vagabundo que já teve o mundo
E o deixou escapar.

Relento

Dormi ao relento virado para dentro
E acordei de olheiras em punho
Estrela esbatida em céu contrastada
Humidade fria no osso alojada
Conforto de pedra dura
Assente em costas de mármore
Hordas de insectos espinhosos
Tacteadores e como manto os calores
Da envolvência de um Universo amado.

extrapolação difusa

Eis que um dia o desabar inevitável de uma estrutura interna imperfeita ribomba pelos desfiladeiros estéreis de um deserto perdido nas dunas. Rasteja na poça de uma sargeta imunda a outrora brilhante forma, dos tempos esquecidos da ascenção, quando o amor transbordava dos homens e enchia barragens de afectividade. Agora o núcleo interno de um cerne formado em fecho cerrado colapsa sob o peso do seu próprio vácuo, o nada imiscui-se nas finas reentrâncias de entranhas mentais microfracturadas vazadas de um propósito maior ,e o vácuo, esse, insinua-se em amável subtileza, e convida a beleza da presença de uma ausência para tomar chá.